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segunda-feira, 13 de agosto de 2018

200 anos de Marx: a crítica da economia política no século XXI
























Organização: Núcleo de Pesquisa em Filosofia Francesa Contemporânea (Nuffc-CNPq) e Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUC-Rio

20 de agosto de 2018
IFCS, Largo do São Francisco
Sala Celso Lemos (308)

Comemorar o bicentenário de Karl Marx deve ser mais do que uma efeméride, mas também outra coisa para além de somá-lo a um triste e indiferente panteão de grandes autores clássicos. Seu legado, ora reclamado ora criticado, ainda pauta muito de nossa política contemporânea. Por isso mesmo, cabe à Universidade avocar a si a tarefa de fazê-lo contemporâneo, de indagar, a partir de nosso tempo presente, em que medida (ou melhor, em quais) sua vasta produção teórica tem a potência de iluminar nossas questões. Em meio a comemorações e a vaga de reportagens mundo afora, sabe-se que as obras completas de Marx e Engels ainda não foram totalmente publicadas – o que por si só deveria reavivar o ânimo de pesquisadores e militantes. Todavia, talvez tal fato aponte para um desconhecimento de fundo que paira por sobre as citações e evocações do nome próprio. Distinto de grife, ele mesmo confessara ao genro, Lafargue, não se considerar um marxista. Fazer da teoria de Marx algo “intempestivo”, para parafrasear o título de obra de Daniel Bensaïd, implica em trazer à mesa os marxismos, no plural, como argumentou Derrida. O que é o propalado “corte epistemológico”? Quando ocorreu? Seria sua natureza política? A questão da ideologia pode ser analisada com o princípio da consciência? Como se dá a exploração do trabalhador nas atuais configurações do capitalismo? As reivindicações específicas dos diversos movimentos sociais ainda encontram no legado de Marx algum apoio teórico? O que seria uma esquerda não ou pós-marxista? Essas e tantas outras indagações povoarão nosso encontro.

O NuFFC (Núcleo de Filosofia Francesa Contemporânea, PPG-Filosofia, UFRJ) retomará alguns desses debates, candentes tanto na recente história da filosofia francesa quanto, de modo mais amplo, no que tange a diversos espectros da cultura hoje. De Althusser às teorias sobre o acontecimento, passando pelo biopoder, a recepção de Marx em solo francês alimenta o pensamento crítico, o que justifica o interesse na promoção dessa atividade.

PROGRAMAÇÃO

8:00 - 10:00

Damien Melo (UFRJ) : “200 anos de Marx: a crítica da economia política no século XXI” — Aos duzentos anos do nascimento de Marx cabe, naturalmente, uma avaliação da atualidade de sua obra. Certamente o mundo capitalista do início do século XXI tem importantes diferenças daquele que Marx conheceu, no entanto continua sendo um mundo capitalista. Para situar a questão, vale mencionar que Michel Foucault no afamado curso do fim da década de 1970 publicado como Nascimento da biopolítica é categórico na afirmação de que o neoliberalismo não é o capitalismo descrito por Marx em O Capital. É interessante que a importante reflexão foucaultiana desenvolve-se no período anterior à generalização do chamado ajuste neoliberal, a partir da década de 1980. Seria, então, à luz do desenvolvimento capitalista nas últimas décadas diferente da estrutura desvendada por Marx em O capital ou o filósofo francês esteve enganado em sua assertiva?

Pedro Rocha (Unirio): “O problema do sentido civilizatório da modernidade” — Marx herdou do idealismo alemão uma concepção progressista da história. A necessidade de pensar concretamente o fazer político obrigou-o a enraizar a possibilidade do socialismo num potencial dialético da sociedade burguesa clássica. Em face aos desenvolvimentos catastróficos do capitalismo tardio, é necessário avaliar o quanto desse potencial dialético continua vivo.

10:30 - 12:30

Eduardo Coutinho (UFRJ): “A paixão segundo Antonio Gramsci” — O que se pode contrapor por parte de uma classe inovadora ao complexo formidável de mitos da classe dominante, ao panem et circensis, aos dramas do poder que garantem a manutenção do Estado burguês? A partir de uma leitura gramsciana, pretende-se mostrar que os projetos contra-hegemônicos não podem negligenciar a dimensão estética e passional da política. É preciso que desenvolvam uma certa "estratégia sensível", um certo tipo de "mito", um sistema de imagens que mova - e comova - as massas. Pretende-se, portanto, refletir sobre a categoria de paixão (ou mito) na obra de Gramsci. Veremos que essa categoria nasce de um diálogo do autor dos Cadernos com Maquiavel, mas também com representantes das correntes idealistas do marxismo da época da Segunda Internacional. Trata-se de uma tradução realista do conceito especulativo de "mito" (Georges Sorel) e de "paixão" (Benedetto Croce).

Carla Rodrigues (UFRJ): “De volta ao problema da separação entre teoria e prática” — Em 1845, Marx escreve as Teses sobre Feuerbach que, quase 100 anos depois, vão inspirar as Teses sobre o Conceito de História, de Walter Benjamin. O objetivo desse trabalho é retomar ao clássico postulado marxiano - "Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo." - para discuti-lo à luz da releitura de S. Zizek - "Devemos parar de querer mudar o mundo às cegas, para interpretá-lo, saber o que ele é” - e considerar, com Benjamin e com Derrida, problemas e limites da separação entre teoria e prática, propondo um deslocamento do "é preciso fazer" para "como fazer".

14:00 - 16:00

Gustavo Chataignier (PUC-Rio): “O Marx intempestivo de Daniel Bensaïd – para além do corte e da ontologia” — Daniel Bensaïd (1946-2010), filósofo cujo inspiração política o ligava o trotskysmo, deixou vasta produção teórica cuja catalogação demanda trabalho analítico, haja vista o grande número de referências teóricas mobilizadas. Nesse bojo, dialogam a tradição marxista, bem como a filosofia francesa contemporânea. Seu livro “Marx, o intempestivo” (1995) talvez seja um bom exemplo de atualização crítica de Karl Marx.

Luiz Eduardo Mota (UFRJ): “Marxismo e Ciências Sociais” —O trabalho vai ao encontro da perspectiva marxista na qual Marx e Engels criaram a partir da Ideologia Alemã de 1845 a ciência da história (o materialismo histórico) que vem a ser a ciência social por excelência. Assim sendo, seguindo a trilha aberta por Marx e Engels, e continuada por Lenin, Bukharin, Althusser e outros, esse trabalho demarca uma posição em defesa do caráter científico do marxismo em oposição à perspectiva idealista do marxismo em que afiança o caráter filosófico do marxismo.

16:30 - 18:30

Fernando Vieira (Ucam): “Marx e a contemporaneidade de seu pensamento” — Debater os principais conceitos de Marx analisando-os enquanto métodos conceituais que permitem uma apurada reflexão acerca do real. não se deve descontextualizar Marx de sua época, o século XIX, no entanto a base de seu pensamento nos permite perceber a manutenção das relações sociais capitalistas e a análise de suas contradições.

Palestrante surpresa: “Marx e a biopolítica: crise do trabalho e do bem-estar” — Faremos uma releitura da teoria marxiana do valor, incluindo o poder disciplinar e as técnicas biopolíticas descritas por Foucault. Claro que o capital produz os sujeitos de que precisa para se reproduzir, mas essa constatação pura e simples nos deixaria ainda mais pessimistas. O trabalho vivo e a as subjetividades são produtivos e, por isso, são imanentes ao capital, e não apenas um de seus efeitos. Mostrar como o neoliberalismo expande a valorização capitalista a todas as esferas da vida é um modo de reposicionar as lutas. Mais do que isso: é um modo de enxergar lutas de novos tipos ali onde já estão em curso, muitas vezes invisíveis ao enquadre interpretativo da esquerda. A esquerda precisa de novos rumos, capazes de convocar aqueles que se sentem desmotivados e incrédulos. O governo neoliberal constitui-se a partir de modos de vida e processos de subjetivação que lidam diretamente com afetos e desejos. Que afetos, desejos ou perspectivas de emancipação acompanham os projetos da esquerda? Que modos de vida, para além do trabalho na fábrica, podem ainda mobilizar corações e mentes? Sem enfrentar essas questões conceituais, a esquerda continuará perdendo a disputa, seja na sociedade ou no próprio exercício de governo.

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